Era
fascinado por crepúsculos. Diante de um belo pôr de sol,
expandia-se: “Ah!”. Dia seguinte, o espetáculo se renovava, e
ele: “Oh! Ah!”. Em certas ocasiões, perdia mesmo a conta,
explodindo: “Ah! Oh! Ah!” indefinidamente.
Naquela
tarde, a combinação de matizes e nuvens foi tão soberba que as
exclamações habituais se converteram em urros. Os urros, de tão
estrondosos, provocaram deslocamento de ar. Empalideceram os tons,
desmancharam-se as nuvens, e uma catarata desabou sobre a Terra,
envolvendo o amador de crepúsculos, que desapareceu em redemoinho no
girar do vento, vítima de sua capacidade de admiração.
Carlos
Drummond de Andrade, in Contos plausíveis
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