domingo, 27 de agosto de 2017

Noturno

Não sou o que te quer. Sou o que desce
a ti, veia por veia, e se derrama
à cata de si mesmo e do que é chama
e em cinza se reúne e se arrefece.

Anoitece contigo. E me anoitece
o lume do que é findo e me reclama.
Abro as mãos no obscuro, toco a trama
que lacuna a lacuna amor se tece.

Repousa em ti o espanto que em mim dói,
noturno. E te revolvo. E estás pousada,
pomba de pura sombra que me rói.

E mordo o teu silêncio corrosivo,
chupo o que flui, amor, sei que estou vivo
e sou teu salto em mim suspenso em nada.
Bruno Tolentino

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