terça-feira, 11 de julho de 2017

Rigoberta

Rigoberta Menchú

Ela é uma índia maia-quichê, nascida na aldeia de Chimel, que colhe café e corta algodão nas plantações do litoral desde que aprendeu a caminhar. Nos algodoais viu cair seus dois irmãos, Nicolás e Felipe, os menorzinhos, e sua melhor amiga, ainda menina, todos sucessivamente fulminados pela fumigação de pesticidas.
No ano de 1979, na aldeia de Chajul, Rigoberta Menchú viu como o exército da Guatemala queimava vivo seu irmão Patrocínio. Pouco depois, na embaixada da Espanha, também seu pai foi queimado vivo junto com outros representantes das comunidades indígenas. Agora, em Uspantán, os soldados liquidaram sua mãe aos poucos, cortando-a em pedacinhos, depois de tê-la vestido com roupas de guerrilheiro.
Da comunidade de Chimel, onde Rigoberta nasceu, não sobrou ninguém vivo.
Rigoberta, que é cristã, aprendeu que o verdadeiro cristão perdoa seus perseguidores e reza pela alma de seus verdugos. Quando lhe golpeiam uma face, tinham-lhe ensinado, o verdadeiro cristão oferece a outra.
Eu já não tenho face para oferecer – comprova Rigoberta.
Eduardo Galeano, in Mulheres

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