Devemos
reconhecer que a literatura não transforma socialmente o mundo, que
o mundo é que vai transformando, e não só socialmente, a
literatura. É ingênuo incluir a literatura entre os agentes de
transformação social. Reconheçamos que as obras dos grandes
criadores do passado não parecem ter originado, em sentido pleno,
nenhuma transformação social efetiva, embora tendo uma forte
influência em comportamentos individuais e de geração. A
humanidade seria hoje exatamente a mesma que é se Goethe não
tivesse nascido. A literatura é irresponsável, mas não se pode
imputar-lhe nem o bem nem o mal da humanidade. Pelo contrário, ela
atua como um reflexo mais ou menos imediato do estado das sociedades
e de suas sucessivas transformações.
José
Saramago, in As
palavras de Saramago
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