Nos
encontramos no dia seguinte, num bar em Copacabana, ela sugeriu, moro
ali perto. Eu cheguei cedo, sentei numa mesa ao fundo, queria ter uma
visão mais ampla de quem entrava e quem saía. Nina chegou com meia
hora de atraso, me desculpe, eu nunca me atraso, não sei o que
aconteceu. Ela colocou a enorme bolsa sobre a mesa. Está de mudança?
eu apontei para a bolsa, ela riu, não, na realidade costuma estar
quase vazia, mas eu sempre acho que pode acontecer de eu precisar
carregar algo inesperado, tipo o quê?, eu perguntei, sei lá, tipo
um chapéu, um abajur, ou um tamanduá. Um tamanduá?, é, eu
coleciono, de barro, pedra-sabão, mas os de madeira são os meus
preferidos, por causa da textura. E você, coleciona? eu?, não, eu
não coleciono nada, aliás nem sei direito como é um tamanduá, ah,
parece um urso, um urso com um focinho de tamanduá. Olhei para ela
com carinho, ia dizer que estava feliz com o nosso encontro, quando
ela me interrompeu, vamos pedir alguma coisa? Eu pedi uma dose de
uísque, na época eu achava que todo escritor bebia uísque, ela
pediu um suco de acerola, Nina não tinha pretensões literárias.
Depois falamos sobre o calor, sobre a faculdade, depois Nina contou
da sua família, o pai engenheiro, o avô, meu avô era cineasta
quando jovem, dava aulas na universidade e fazia documentários para
o partido socialista. Eu bebi várias doses de uísque, muito mais do
que estava acostumado, Nina continuou com o suco de acerola, quanto
ao final da noite, lembro muito pouco, apenas de ter tentado beijá-la
e de ela ter correspondido.
Carola
Saavedra, in O inventário das coisas ausentes
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