sexta-feira, 19 de maio de 2017

Fax

Avise ao mundo que estou para chegar.
Peça a ele para guardar
um pedaço do azul de amanhã cedo,
que a nuvem vai crescendo
e eu tenho medo;
para aguar as flores que puder salvar
do corte da enxada e seus horrores;
adoçar o bico da passarinhada
que ainda tiver chance de voar,
(do pavão ao tico-tico).
Parece que o sol anda pleiteando uma polida
para me dar como presente a luz do dia.
Não sei se tenho esse direito,
mas já que venho,
bem que gostaria.
Se conseguir achar um tanto de água pura,
que a deixe preservada
para eu poder ver como se lava a febre,
como se embebe a racha da secura.
Segure um resto de manhã,
que acorda com perfume de roseira,
saborosa de alecrim.
Não sei quanto tempo vão deixar isso pra mim,
até que a terra escureça inteira
ou que a beleza embace por completo.
Mas, vou chegando de qualquer maneira.
Se me vê inquieto,
é pelo prenúncio da chegada, já tão perto.
Para garantir a minha entrada nesse ato louco,
nesse palco incerto,
estou contando ansiosamente com você.
Até daqui a pouco.
Um bebê.
Flora Figueiredo

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