No
dia do meu casamento eu fiquei muito aflita.
Tomamos
cerveja quente com empadas de capa grossa.
Tive
filhos com dores.
Ontem,
imprecisamente às nove e meia da noite,
eu
tirava da bolsa um quilo de feijão.
Não
luto mais daquele modo histérico,
entendi
que tudo é pó que sobre tudo pousa e recobre e a seu modo pacifica.
As
laranjas freudianamente me remetem a uma fatia de sonho.
Meu
apetite se aguça, estralo as juntas de boa impaciência.
Quem
somos nós entre o laxante e o sonífero?
Haverá
sempre uma nesga de poeira sob as camas,
um
copo mal lavado. Mas que importa?
Que
importam as cinzas,
se
há convertidos em sua matéria ingrata,
até
olhos que sobre mim estremeceram de amor?
Este
vale é de lágrimas.
Se
disser de outra forma, mentirei.
Hoje
parece maio, um dia esplêndido,
os
que vamos morrer iremos aos mercados.
O
que há neste exílio que nos move?
Digam-no
os legumes sobraçados e esta elegia.
O
que escrevi, escrevi
porque
estava alegre.
Adélia
Prado
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