domingo, 28 de maio de 2017

A Truta de Ouro

Saindo da igreja, André me perguntou:
Você acha que “A Truta de Ouro” existe ainda?
Vamos ver.
Antigamente, era um dos nossos lugares favoritos, aquele pequeno albergue, à borda da água, onde se comiam pratos simples e deliciosos. Nós lá festejamos as bodas de prata e, depois disso, não tínhamos voltado. Silencioso, pavimentado com pequenas pedras, o lugarejo não havia mudado. Percorremos a rua principal nos dois sentidos: “A Truta de Ouro” tinha desaparecido. O restaurante onde paramos, na floresta, nos desagradou: decerto por compará-lo às lembranças.
E agora, que fazemos? — indaguei.
Nós tínhamos falado do castelo de Vaux, das torres de Blandy.
Mas tem você vontade de ir?
Ele estava pouco ligando e eu também, mas nenhum de nós ousava dizê-lo. Em que pensaria ao certo, enquanto rodávamos sobre estradazinhas cheirando a folhagem? No deserto de seu futuro?
Simone de Beauvoir, in A mulher desiludida

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