segunda-feira, 3 de abril de 2017

Se nos permite uma sugestão


PARA: GRACILIANO RAMOS
ASSUNTO: VIDAS SECAS

Prezado senhor,

Lemos seus originais com interesse, a despeito da aridez do tema. Aliás, o título vem bem a calhar nesse momento de crise hídrica pelo qual passa o planeta (hahahaha). Julgamos, porém, que a narrativa ganharia se ao final oferecesse alguma possibilidade de redenção. É muita desgraça. Aqueles coitados sofrem o tempo todo, o leitor não tem nem um momento de trégua, é só ziquizira. Tanto pessimismo afasta as pessoas, acredite em nós, temos experiência no ramo. Nosso departamento comercial encomendou inúmeras pesquisas e os resultados foram eloquentes: ninguém, absolutamente ninguém quer saber de adversidade. De amarga basta a vida, como diz o outro. E mais: morte de animal já extrapola qualquer limite.
Pelo menos o caçula poderia se sair bem, abrindo um negócio no Sul, não? Ah, justamente: O Menino Mais Novo. Eis outro ponto a ser considerado: a ausência de nome dos filhos do protagonista. Se até a cadela Baleia, que Deus a tenha, é nomeada, por que o senhor condenou os meninos ao anonimato? Teria sido esquecimento?
Seguem algumas sugestões (não se peje em adotá-las, caso seu livro encontre acolhida em alguma casa editorial):
*Filho mais velho: Fábio Júnior, Marlon Wagner, Marcelantony, Selton (têm forte apelo midiático);
*Filho mais novo: Cauã, Fiuk, Justin, Chay Suede (estimulam o imaginário das adolescentes).
Boa sorte!
Maria Emília Bender, in revista Piauí

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