PARA:
GRACILIANO RAMOS
ASSUNTO:
VIDAS SECAS
Prezado
senhor,
Lemos
seus originais com interesse, a despeito da aridez do tema. Aliás, o
título vem bem a calhar nesse momento de crise hídrica pelo qual
passa o planeta (hahahaha). Julgamos, porém, que a narrativa ganharia se ao final oferecesse
alguma possibilidade de redenção. É muita desgraça. Aqueles
coitados sofrem o tempo todo, o leitor não tem nem um momento de
trégua, é só ziquizira. Tanto pessimismo afasta as pessoas,
acredite em nós, temos experiência no ramo. Nosso departamento
comercial encomendou inúmeras pesquisas e os resultados foram
eloquentes: ninguém, absolutamente ninguém quer saber de
adversidade. De amarga basta a vida, como diz o outro. E mais: morte
de animal já extrapola qualquer limite.
Pelo
menos o caçula poderia se sair bem, abrindo um negócio no Sul, não?
Ah, justamente: O Menino Mais Novo. Eis outro ponto a ser
considerado: a ausência de nome dos filhos do protagonista. Se até
a cadela Baleia, que Deus a tenha, é nomeada, por que o senhor
condenou os meninos ao anonimato? Teria sido esquecimento?
Seguem
algumas sugestões (não se peje em adotá-las, caso seu livro
encontre acolhida em alguma casa editorial):
*Filho mais velho: Fábio Júnior, Marlon Wagner, Marcelantony, Selton (têm forte apelo
midiático);
*Filho mais novo: Cauã, Fiuk, Justin, Chay Suede (estimulam o imaginário das
adolescentes).
Boa
sorte!
Maria
Emília Bender, in revista Piauí
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