quinta-feira, 6 de abril de 2017

Posse do passado

Sei que perdi tantas coisas que não poderia contá-las e que essas perdições, agora, são o que é meu. Sei que perdi o amarelo e o negro e penso nessas impossíveis cores como não pensam os que veem. Meu pai morreu e está sempre a meu lado. Quando quero escandir versos de Swinburne, o faço, me dizem, com sua voz. Só o que morreu é nosso, só é nosso o que perdemos. Ilion foi, mas Ilion perdura no hexâmetro que a carpe. Israel foi quando era uma antiga nostalgia. Todo poema, como o tempo, é urna, elegia. Nossas são as mulheres que nos deixaram, já não sujeitos á véspera, que é naufrágio, e aos alarmes e terrores da esperança. Não há outros paraísos a não ser os paraísos perdidos.
Jorge Luis Borges, in Os conjurados

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