Ela
é Exu e também uma de suas mulheres, espelho e amante: Maria
Padilha, a mais puta das diabas com quem Exu gosta de se revirar nas
fogueiras.
Não
é difícil reconhecê-la quando entra em algum corpo. Maria Padilha
geme, uiva, insulta e ri com muito maus modos, e no fim do transe
exige bebidas caras e cigarros importados. É preciso dar a ela
tratamento de grande senhora e rogar-lhe muito para que se digne a
exercer sua reconhecida influência junto aos deuses e diabos que
mandam mais.
Maria
Padilha não entra em qualquer corpo. Ela escolhe, para manifestar-se
neste mundo, as mulheres que nos subúrbios do Rio ganham a vida
entregando-se a troco de tostões. Assim, as desprezadas se tornam
dignas de devoção: a carne de aluguel sobe ao centro do altar.
Brilha mais que todos os sóis o lixo da noite.
Eduardo
Galeano, in Mulheres
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