O
amor quer abraçar e não pode.
A
multidão em volta,
com
seus olhos cediços,
põe
caco de vidro no muro
para
o amor desistir.
O
amor usa o correio,
o
correio trapaceia,
a
carta não chega,
o
amor fica sem saber se é ou não é.
O
amor pega o cavalo,
desembarca
do trem,
chega
na porta cansado
de
tanto caminhar a pé.
Fala
a palavra açucena,
pede
água, bebe café,
dorme
na sua presença,
chupa
bala de hortelã.
Tudo
manha, truque, engenho:
é
descuidar, o amor te pega,
te
come, te molha todo.
Mas
água o amor não é.
Adélia
Prado
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