quarta-feira, 15 de março de 2017

A banalização da morte

Se o homem não é capaz de organizar a economia mundial de modo a satisfazer a necessidade de uma humanidade que está morrendo de fome e de tudo, que humanidade é essa? Nós, que enchemos a boca com a palavra humanidade, creio que ainda não chegamos a isso, não somos seres humanos. Talvez um dia consigamos sê-lo, mas não somos, falta muitíssimo. O espetáculo do mundo está aí, e é uma coisa de arrepiar. Vivemos ao lado de tudo o que é negativo como se não tivesse nenhuma importância, a banalização do horror, a banalização da violência, da morte, principalmente se é a morte de outros, claro. É-nos indiferente que esteja morrendo gente em Sarajevo, e também não devemos falar só dessa cidade, porque o mundo é um imenso Sarajevo. Enquanto não despertar a consciência das pessoas, isso continuará assim. Porque muito do que se faz, se faz para manter todos nós na abulia, na falta de vontade, para diminuir nossa capacidade de intervenção cívica.”
José Saramago, in As palavras de Saramago

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