“Quão
melhor é apercebermo-nos de que as origens da ira são
insignificantes e inofensivas! O que tu vês acontecer junto dos
animais, também encontrarás nos homens: vivemos perturbados por
coisas frívolas e vãs. O vermelho excita o touro, a áspide
ergue-se perante uma sombra, um pano atiça um urso ou um leão:
todos os seres da natureza ferozes e selvagens se assustam com coisas
vãs. O mesmo acontece com os espíritos inquietos e insensatos: são
vencidos pelas aparências; é por isso que consideram ofensiva uma
gratificação modesta, a causa mais frequente da ira ou, pelo menos,
a mais amarga de todas. De fato, iramo-nos com aqueles que nos são
mais queridos porque nos deram menos do que esperávamos ou menos do
que os outros obtiveram; para qualquer um dos casos, há um remédio.
Ele deu mais a outro homem: contentemo-nos com a nossa parte, sem
fazermos comparações: nunca será feliz aquele que atormenta quem é
mais feliz que ele. Recebi menos do que esperava: talvez esperasse
mais do que me era devido. Este capricho é um dos mais temíveis,
pois dele nascem as iras mais perniciosas e mais capazes de atentar
contra as coisas mais sagradas.”
Sêneca,
in Da ira
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