quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Quartel

Nem me deixaram pensar em jogo de bola. Jiu-jítsu. E eu que sempre gostei duma pelota… Os cobras queriam-me de quimono, aproveitando-me o pouco que sabia da luta.
O comandante com dois filhos. Dois moleques mimados, manias de mandar na gente. Mais chatos do que essas musiquinhas que andam por aí no rádio. Gemedeira irritante, sem motivo, nem ritmo, nem nada!
E eu aturando onze meses os filhinhos do comandante.
Sim senhor, seu capitão.
Porque, segundo ele, os garotos tinham irrefreável aptidão para lutas. De acordo com o homem, eram gênios em tudo o que faziam.
Para mim, o comandante era bom. Eu não tinha queixa. Favores, dispensas, o homem me dava um fio de liberdade. Porém, um defeito sem remédio. Eu nunca rasguei o verbo. Senão, cafua. O mal maior do capitão era não reconhecer a verdadeira vocação dos garotos — plantar batatas… Na horta do pai, ou onde bem entendessem. Para jiu-jítsu, garanto que não haviam nascido.
João Antônio, in Afinação da arte de chutar tampinhas

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