“Quando não estou lendo um livro que
apanho na biblioteca pública, fico vendo um dos programas da TV que
mostram a vida dos ricos, os palácios deles, os automóveis, os
cavalos, os iates, as joias, os quadros, os móveis raros, a baixela,
a adega, a criadagem. É impressionante como os ricos são bem
servidos. Não perco um desses programas, ainda que não me sejam de
muita utilidade, a totalidade desses ricos não vive no meu país.
Mas gostei de ouvir um milionário entrevistado durante o jantar
dizer que adquiriu um iate no valor de centenas de milhões de
dólares porque queria ter um iate maior do que o de um outro sujeito
rico. ‘Era a única maneira de acabar com a inveja que eu sentia
dele’ confessou, sorrindo, dando um gole na bebida do seu copo. Os
comensais à sua volta riram muito quando ouviram aquilo. Rico pode
ter tudo, até inveja um do outro, e neles isso é engraçado, aliás
tudo é divertido. Eu sou pobre e a inveja em pobre é muito
malvista, porque inveja deixa pobre recalcado. Junto com a inveja,
vem ódio dos ricos, pobre não sabe como ir à forra esportivamente,
sem espírito de vingança. Mas eu não sinto raiva de nenhum rico,
minha inveja é parecida com a do cara do iate maior: como ele,
apenas quero ganhar o jogo.”
Rubem Fonseca, in Pequenas
criaturas
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