Uma
vida exterior simples e modesta só pode fazer bem, tanto ao corpo
como ao espírito. Não creio de modo algum na liberdade do ser
humano, no sentido filosófico. Cada um age não só sob pressão
exterior como também de acordo com a sua necessidade interior. O
pensamento de Schopenhauer: “O homem pode, na verdade, fazer o que
quiser, mas não pode querer o que quer”, impressionou-me vivamente
desde a juventude e tem sido para mim um consolo constante e uma
fonte inesgotável de tolerância. Esse conhecimento suaviza
beneficamente o sentimento de responsabilidade levemente inibitório
e faz com que não tomemos demasiado a sério, para nós e para os
outros, uma concepção de vida que justifica de modo especial a
existência do humor.
Do
ponto de vista objetivo, pareceu-me sempre desprovido de senso
querer-se indagar sobre o sentido ou a finalidade da própria
existência ou da existência da criação. E, no entanto, cada homem
tem certos ideais, que o orientam nos seus esforços e juízos. Neste
sentido o bem-estar e a felicidade nunca me pareceram um fim em si
(chamo a esta base ética o ideal da vara de porcos). Os ideais que
me iluminavam e me encheram incessantemente de alegre coragem de
viver foram sempre a bondade, a beleza e a verdade. Sem o sentimento
de harmonia com aqueles que têm as mesmas convicções, sem a
indagação daquilo que é objetivo e eternamente inatingível no
campo da arte e da investigação científica, a vida ter-me-ia
parecido vazia. Os fins banais do esforço humano: propriedade, êxito
exterior e luxo pareceram-me desprezíveis desde jovem.
Albert
Einstein, in Como vejo o mundo
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