domingo, 8 de janeiro de 2017

Um inútil

De onde diabos aquele rapaz tinha tirado aquelas manhas?” pensou Fulgor Sedano, enquanto regressava à Media Luna. “Eu não esperava nada dele. ‘É um inútil’, dizia meu finado patrão dom Lucas. ‘Um frouxo de marca maior.’ Eu dava razão a ele. ‘Quando eu morrer, pode ir começando a procurar outro trabalho, Fulgor.’ ‘Está bem, dom Lucas.’ ‘Pois eu digo a você que tentei mandá-lo ao seminário para ver se pelo menos ele conseguia para comer e manter sua mãe quando eu faltar; mas nem isso ele se decidiu a fazer.’ ‘O senhor não merece isso, dom Lucas.’ ‘Não se pode contar com ele para nada, nem para servir de bengala quando eu estiver velho. Fracassei com ele, fazer o quê, Fulgor?’ ‘É uma verdadeira pena, dom Lucas.’
E agora, essa. Se eu não fosse tão encarinhado pela Media Luna, nem teria vindo ao encontro dele. Teria me largado sem avisar. Mas sentia apreço por aquelas terras; por aquelas colinas calvas tão trabalhadas e que continuavam aguentando o sulco do arado, dando cada vez mais de si... Querida Media Luna... E os agregados: “Venha para cá, terrinha do Enmedio.” E via como ela vinha. Como já estava aqui. O tanto que uma mulher, afinal de contas, significa. “Claro que sim!”, disse. E chicoteou suas pernas ao traspassar a porta grande da fazenda.
Juan Rulfo, in Pedro Páramo

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