quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Check-up

Este ano pretendo cumprir rigorosamente a resolução que tomei no fim do ano passado: não mais tomar resoluções de ano-novo. Elas são promessas que fazemos à nossa consciência em que nem a consciência acredita mais. A minha já estava reagindo com bocejos a cada juramento que eu fazia para o ano-novo.
- Vou começar uma dieta. Séria, desta vez.
- Sei, sei.
- Vou ser tolerante, justo, sóbrio, equilibrado... e arrumar meus livros.
- Tudo bem.
- Fazer exercícios diários. Usar fio dental. Reler os clássicos. Não tudo ao mesmo tempo, claro.
- Certo, certo.
Mesmo com ar de enfado, minha consciência não deixa de se submeter ao exame anual que faço nela, sempre nos últimos dias de dezembro. Uma espécie de checkup moral. Seu estado geral é bom. Não teve grandes provações no ano passado. Fiz algumas coisas que não devia, não fiz outras que devia, nada grave. Vamos poder continuar nos encarando - principalmente agora que eliminamos este ridículo ritual das resoluções de fim de ano da nossa relação. O homem maduro é o que desiste da virtude impossível para não perder a possível.
Luís Fernando Veríssimo, in As mentiras que os homens contam

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