Tina Modotti
Julio Antonio Mella, revolucionário
cubano, vive no exílio no México. Uma noite de 1929, Mella caminha
de braços dados com sua companheira, Tina Modotti, quando os
assassinos o liquidam a tiros.
Tina grita, mas não chora frente ao
corpo caído.
Tina chora depois, quando chega em casa,
ao amanhecer, e vê os sapatos de Mella, vazios, como que esperando
por ele debaixo da cama.
Até poucas horas antes, esta mulher era
tão feliz que sentia inveja dela mesma.
O governo de Cuba não tem nada a ver,
afirmam os jornais mexicanos de direita. O exilado foi vítima de um
crime passional, digam o que digam a judiada do bolchevismo
moscovita. A imprensa revela que Tina Modotti, mulher de
duvidosa decência, reagiu com frieza frente ao trágico episódio
e posteriormente, em suas declarações à polícia, incorreu em
contradições suspeitas.
Tina, fotógrafa italiana, soube penetrar
o México, muito a fundo, nos poucos anos que está aqui. Suas
fotografias oferecem um espelho de grandeza às coisas simples de
cada dia e à simples gente que aqui trabalha com as mãos.
Mas ela tem a culpa da liberdade. Vivia
sozinha quando descobriu Mella, misturado na multidão que se
manifestava por Sacco e Vanzetti e por Sandino, e se uniu a ele sem
matrimônio. Antes tinha sido atriz de Hollywood e mod elo e amante
de artistas; e não há homem que ao vê-la não fique nervoso.
Trata-se, portanto, de uma perdida – e para piorar, estrangeira e
comunista. A polícia distribui fotos que mostram nua sua imperdoável
beleza, enquanto começam as gestões para expulsá-la do México.
Eduardo Galeano, in Mulheres
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