O
palavrão é a mais espontânea forma da poesia. Brota do fundo
d’alma e maravilhosamente ritmada. Se isto indigna o leitor e ele
solta sem querer uma daquelas, veja o belo verso que lhe saiu, com as
características do próprio: ritmo e emoção — sem o que, meu
caro senhor, não há poesia. Escute, não perca discussão de rua,
especialmente entre comadres italianas, e se verá então em plena
poesia dramática de empalidecer de inveja o maravilhoso e refinado
Racine, mas não o bárbaro Shakespeare, igualmente maravilhoso,
embora destrambelhado de boca.
Por
isso é que não nos toca a poesia feita a frio, de fora para dentro,
mas a que nos surge do coração como um grito, seja de amor, de dor,
de ódio, espanto ou encantamento.
Mário
Quintana, in A vaca e o hipogrifo
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