Eu
já disse quem sou Ele.
Meu
desnome é Andaleço.
Andando
devagar eu atraso o final do dia.
Caminho
por beiras de rios conchosos.
Para
as crianças da estrada eu sou o Homem do Saco.
Carrego
latas furadas, pregos, papéis usados.
(Ouço
harpejos de mim nas latas tortas.)
Não
tenho pretensões de conquistar a inglória perfeita.
Os
loucos me interpretam.
A
minha direção é a pessoa do vento.
Meus
rumos não têm termômetro.
De
tarde arborizo pássaros.
De
noite os sapos me pulam.
Não
tenho carne de água.
Eu
pertenço de andar atoamente.
Não
tive estudamento de tomos.
Só
conheço as ciências que analfabetam.
Todas
as coisas têm ser?*
Sou
um sujeito remoto.
Aromas
de jacintos me infinitam.
E
estes ermos me somam.
*Penso
que devemos conhecer algumas poucas cousas sobre a fisiologia dos
andarilhos. Avaliar até onde o isolamento tem o poder de influir
sobre os seus gestos, sobre a abertura de sua voz, etc. Estudar
talvez a relação desse homem com as suas árvores, com as suas
chuvas, com as suas pedras. Saber mais ou menos quanto tempo o
andarilho pode permanecer em suas condições humanas, antes de se
adquirir do chão a modo de um sapo. Antes de se unir às vergônteas
como as parasitas. Antes de revestir uma pedra à maneira do limo.
Antes mesmo de ser apropriado por relentos como os lagartos. Saber
com exatidão quando que um modelo de pássaro se ajustará à sua
voz. Saber o momento em que esse homem poderá sofrer de prenúncios.
Saber enfim qual o momento em que esse homem começa a adivinhar.
Manoel
de Barros
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