Aprendi rapidamente que ler é cumulativo
e avança em progressão geométrica: cada leitura nova baseia-se no
que o leitor leu antes. Comecei fazendo suposições sobre as
histórias que Borges escolhia para mim — que a prosa de Kipling
seria afetada, a de Stevenson infantil, a de Joyce ininteligível —,
mas logo o preconceito deu lugar à experiência, e a descoberta de
uma história deixava-me na expectativa de outra que, por sua vez,
era enriquecida com as lembranças das reações de Borges e das
minhas. O avanço de minha leitura jamais seguia a sequência
convencional do tempo. Por exemplo, ler em voz alta para ele textos
que eu já lera antes modificava aquelas leituras solitárias
anteriores, alargava e inundava minha lembrança dos textos, fazia-me
perceber o que não percebera então mas que agora parecia recordar,
sob o impulso da reação dele. “Existem aqueles que, enquanto leem
um livro, recordam, comparam, trazem à tona emoções de outras
leituras anteriores”, observou o escritor argentino Ezequiel
Martínez Estrada.
Alberto Manguel, in Uma
história da leitura
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