SEXTA-FEIRA
20 – As coisas estão indo bem outra vez em minha alma. De volta à
humildade
e decência
da vida de escritor. Um amigo de Galloway me visitou à tarde; mas
escrevi outra vez à noite. A mim ocorre que uma das maiores e mais
corajosas ideias que um escritor pode ter é que ele escreve sobre
alguém apenas “para mostrar o personagem maluco que ele é”.
Essa ideia deve ser compreendida no sentido americano. Meu amigo de
Galloway quer conclusões
específicas
da arte literária, eu concordo com ele, e acho que nada é mais
específico sobre uma pessoa do que o tom e a substância de sua
personalidade, sua existência, sua fúria, seu sentimento e sua
aparência. Para mostrar o personagem maluco que é Francis, escrevi
um esboço de outra pessoa de um jeito que você pode gostar ou não
dessa outra pessoa, mas vê que Francis não gosta mesmo dela. E qual
é o propósito desses truques e artifícios? – qual é o sentido
de Francis não gostar de outra pessoa? – especificamente, esse é
o tipo de personagem que ele é,
é o que ele faz.
Isso levaria tempo demais para explicar – pelo menos, essa é minha
disposição hoje, uma boa disposição, e comecei a escrever à 1h
da manhã e trabalhei na versão final das 8.000 palavras desta
semana.
Jack
Kerouac, in Diários de Jack
Kerouac
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