Moravam
nas árvores da minha infância. Amarelos, cabeças vermelhas, eram
também conhecidos como “cabecinhas de fogo”. Aos poucos foram
sumindo. Pensei que nos haviam abandonado, definitivamente. De medo.
Para sobreviver. Teriam ido para longe dos homens... “Os homens são
aqueles que perderam a confiança dos pássaros.” E com razão.
Tantas coisas horríveis lhes fizemos. Nos meus dias de infância, o
esporte favorito dos meninos era matar passarinhos com estilingue,
pelo puro prazer de matar. Ou engaiolá-los. Há uma canção do
Chico sobre a passarada em que a alegria é sempre interrompida pelo
refrão “... o homem vem aí, o homem vem aí”. Mas eles estão
voltando. Nas montanhas de Minas vi um espetáculo maravilhoso que
nunca imaginei que existisse: bandos de mais de cinquenta
canários-da-terra, voando. Isso me deu alegria. E esperança. Pena
que os nossos meninos não saibam o que são canários-da-terra nem
saibam identificar o seu canto. Deveriam aprender isso nas escolas.
Porque dá mais alegria um pássaro voando que um dígrafo e duas
mesóclises na prova.
Rubem
Alves, in Ostra feliz não faz pérola
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