quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Um mesmo tema, leituras diversas

Espinosa, em seu Tractatus theologico-politicus, de 1650 (denunciado pela Igreja Católica Romana como obra “forjada no inferno por um judeu renegado e pelo diabo”), já observara:
Acontece com frequência que em livros diferentes lemos histórias em si mesmas semelhantes, mas que julgamos de forma muito diferente, segundo as opiniões que formamos sobre os autores. Lembro de ter lido certa vez em algum livro que um homem chamado Orlando Furioso costumava montar uma espécie de monstro alado pelos ares, voar sobre qualquer terra que quisesse, matar sem ajuda um vasto número de homens e gigantes e outras fantasias desse tipo, as quais, do ponto de vista da razão, são obviamente absurdas. Li uma história muito parecida em Ovídio, sobre Perseu, e também no livro dos Juízes e Reis, sobre Sansão, que sozinho e desarmado matou milhares de homens, e sobre Elias, que voou pelo ar e foi finalmente ao céu, num carro de fogo com cavalos ígneos. Todas essas histórias são obviamente parecidas, mas julgamo-las de modo muito diferente. A primeira buscava divertir, a segunda tinha um objetivo político, a terceira, um motivo religioso”.
Alberto Manguel, in História da leitura

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