quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Ana Paula

- “Ana Paula?!”
- É. Por quê?
- Conta outra.
- Meu nome é Ana Paula.
- Você não vai acreditar, mas eu sempre sonhei em encontrar uma Ana Paula.
- Mesmo?
- E o meu sonho era... você. Escrito.
- Mesmo?!
- O cabelo, os olhos, até o formato do rosto.
- Que coisa!
- Sabe de uma coisa? Eu estou achando isso muito suspeito.
- Suspeito?
- Você não se chama Ana Paula, chama?
- Juro!
- Está pensando o quê? Pode parar.
- Mas...
- Você não me engana. Está tudo perfeito demais. Até o dentinho um pouco torto. Aí tem coisa. Pera lá.
- Que coisa podia ter?
- Você acha que os sonhos se realizam, assim, no mais?
- Só sei que o meu nome é Ana Paula.
- Você ia chegar assim, como eu sempre sonhei? Até o jeito de falar? Pára.
- Desculpe se eu...
- Não. Pára. Aí tem coisa. Comigo não. Não caio nessa.
E ele se afastou às pressas, fugindo, quase derrubando o sorveteiro.
Luís Fernando Veríssimo, in As mentiras que os homens contam

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