Há
dois tipos de ideias: ideias inertes e ideias com poder
gravitacional. As ideias inertes, como o nome está dizendo, são
destituídas de poder. Estão onde estão e isso é tudo. Como
pedras. A maior parte das ideias que se ensinam nas escolas pertence
a essa categoria. Um bom exemplo se encontra naquele parágrafo do
livro de biologia que minha neta tinha de aprender. Via de regra,
essas ideias são logo esquecidas. A memória as deleta e joga na
lixeira. Algumas permanecem na memória consciente como lixo. Por
exemplo, aprendi no curso de admissão que a ilha de Tupinambarana é
a segunda maior ilha fluvial do mundo. Essa informação não faz
nada com a minha cabeça. Note-se que as ideias inertes,
frequentemente, possuem os critérios cartesianos de clareza e
distinção. As ideias com poder gravitacional são aquelas que têm
o poder de chamar outras. Elas nunca estão sozinhas. São sóis do
sistema solar que é a nossa mente. Elas produzem big bangs na
cabeça dos quais nascem universos. É assim que acontecem a poesia,
a literatura, a música: uma única ideia explode e eis a obra!
Rubem
Alves, in Ostra feliz não faz pérola
Nenhum comentário:
Postar um comentário