O
boi que apareceu num meu poeminho alguns cadernos atrás — aquele
que cortava as unhas da minha mão direita — causou protesto de
leitor que, em carta, se disse ofendido por não o levar a sério (a
ele, leitor) e chegou a afirmar que falava não só em seu nome como
também em nome de meus outros fregueses de caderno.
Pois
na verdade vos digo que não sei de nada mais sério nem de nada mais
triste...
Porque
esse boi é um pronome. Está em lugar de todo um mundo perdido, de
tanta gente por aí sumida — inclusive (ó saudade!) a Gabriela,
que passava os meus poemas a ferro... É bom parar por aqui. Senão
acabo escrevendo outro poema aparentemente antilírico. O que é um
disfarce para lá de inexplicável, hoje em dia, num romântico de
sempre.
Mário
Quintana, in A vaca e o hipogrifo
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