quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Boi do barulho

O boi que apareceu num meu poeminho alguns cadernos atrás — aquele que cortava as unhas da minha mão direita — causou protesto de leitor que, em carta, se disse ofendido por não o levar a sério (a ele, leitor) e chegou a afirmar que falava não só em seu nome como também em nome de meus outros fregueses de caderno.
Pois na verdade vos digo que não sei de nada mais sério nem de nada mais triste...
Porque esse boi é um pronome. Está em lugar de todo um mundo perdido, de tanta gente por aí sumida — inclusive (ó saudade!) a Gabriela, que passava os meus poemas a ferro... É bom parar por aqui. Senão acabo escrevendo outro poema aparentemente antilírico. O que é um disfarce para lá de inexplicável, hoje em dia, num romântico de sempre.
Mário Quintana, in A vaca e o hipogrifo

Nenhum comentário:

Postar um comentário