Acho
que já escrevi sobre isso por aqui. Sobre deixar as pessoas irem
embora sem dó. Sem olhar pra trás. É necessário. caramba. A vida
é assim mesmo. Os filmes já reproduziram cenas do tipo milhões de
vezes. Uma hora alguém vai bater a porta e sair de nossas vidas pra
sempre. Ela não terá dó. Vai jogar os momentos que julgamos
intimamente lindos no ralo da pia e você ficará se remexendo no
sofá como um gordo com cólica renal. E não adianta escrever para
tentar apaziguar. Foi uma escolha. Temos que nos contentar com as
lembranças fora de hora e a vontade de ligar ou mandar uma mensagem
boba como “oi, tá tudo bem por aí? Almoçou o quê? tem ido ao
cinema? Tá feliz?” assim mesmo. Ficamos chatos. Incapazes de
sermos engraçados ou contar uma piada. Ficamos fodidos por dentro
feito uma cidadezinha devastada por um tornado, mas faz parte da lei.
Passei a madrugada pensando no sorriso dela, mas da última vez que
nos encontramos ela disse “não se iluda comigo. Não tenho nada a
oferecer”. Entendi a crueldade dela. Temos que ser cruéis com
pessoas que não nos servem mais. Faço isso com escritores e livros.
Deixo de lê-los. Já fiz isso com garotas que choraram e diziam
gostar de mim pra valer. Alguns abraços não se encaixam no nosso e
temos que abrir as gaiolas para os pássaros beijar o céu e
construir seus ninhos. Acontece que estamos sempre juntando os
destroços e tentando seguir em frente. Acho que quem ama tem um
pouco de mendigo. Tem um pouco de catador de papel e alumínio que
bota tudo na carroça e vende por doses de pinga. Vai arder por um
tempo. Depois sara. Assopra essa ferida com literatura, Urso.
Diego
Moraes,
in
ursocongelado.tumblr.com
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