segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Filhos

Meus filhos, eu os abençoo. Sugiro aos pais ler a página de Gibran Khalil Gibran no seu livro O profeta com o título “Os filhos”. “Vossos filhos não são vossos filhos. Eles vêm através de vós mas não são vossos, e apesar de estarem convosco não vos pertencem. Sois os arcos dos quais seus filhos, como flechas vivas, são arremessados na direção do alvo que o arqueiro vê no infinito.” Uma vez disparada, a flecha voa para longe do arco que fica, vazio... A imagem é linda. Mas não me parece que seja totalmente verdadeira. E isso porque a flecha, ainda que não atinja o alvo, vai sempre na direção do alvo que o arqueiro viu. Sugiro, então, uma alteração: “Vossos filhos são flechas que, uma vez disparadas, se transformam em pássaros que voam para onde querem e não na direção do alvo que o arqueiro viu”. Ser pai é alegrar-se com o voo do pássaro, livre, para longe, numa direção não sonhada. Se eu tivesse voado na direção do alvo que meu pai viu, eu seria um engenheiro, talvez um médico. Pode até ser que tivesse atingido sucesso profissional e me tornado um homem rico. Mas minhas asas me levaram para um lugar que nunca passou pelos seus sonhos, e nem mesmo pelos meus... Nunca imaginei que seria escritor. Parece que as asas sabem mais sobre as direções da alma que nossos pensamentos. E estou contente. E nesse dia abençoo meus filhos nos seus voos.
Rubem Alves, in Ostra feliz não faz pérola

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