Encontro
muitas coisas nebulosas. As dificuldades começam com a história de
meu nome. O sobrenome de meu pai era Sousa e não Saramago. Ele se
chamava José de Sousa. Acontece que em Azinhaga, a aldeia onde
nasci, as famílias não eram conhecidas pelos sobrenomes, mas por
alcunhas. Minha família tinha a alcunha de Saramago, que é o nome
de uma planta silvestre, que dá uma florzinha com quatro pétalas e
cresce pelos cantos, quase sempre esquecida.
Quando
nasci, meu pai se dirigiu ao cartório para me registrar e se limitou
a dizer: “Vai se chamar José como o pai”. O empregado do
registro civil, por sua conta e risco, acrescentou ao sobrenome
verdadeiro, Sousa, a alcunha de Saramago. Tornei-me, então, José de
Sousa Saramago. Meu pai só descobriu o engano quando eu já estava
com sete anos. Para me matricular na escola primária, ele teve de
apresentar a certidão de nascimento e só então se deu conta de que
eu me chamava José Saramago! O mais grave é que ele não gostava
nem um pouco dessa alcunha.
José
Saramago, in As palavras de Saramago
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