O
mistério das coisas, onde está ele?
Onde
está ele que não aparece
Pelo
menos a mostrar-nos que é mistério?
Que
sabe o rio disso e que sabe a árvore?
E
eu, que não sou mais do que eles, que sei disso?
Sempre
que olho para as coisas e penso no que os homens pensam delas,
Rio
como um regato que soa fresco numa pedra.
Porque
o único sentido oculto das coisas
É
elas não terem sentido oculto nenhum,
É
mais estranho do que todas as estranhezas
E
do que os sonhos de todos os poetas
E
os pensamentos de todos os filósofos,
Que
as coisas sejam realmente o que parecem ser
E
não haja nada que compreender.
Sim,
eis o que os meus sentidos aprenderam sozinhos:
— As
coisas não têm significação: têm existência.
As
coisas são o único sentido oculto das coisas.
Alberto
Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa
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