segunda-feira, 20 de junho de 2016

Uma ode à palavra

Pesquisador português organiza e edita os manuscritos do teórico Pierre Hourcade sobre a obra de Fernando Pessoa
Fernando Pessoa
Pessoa, o poeta inapreensível da inquietação e da dor

A pátria de Fernando Pessoa não era apenas a língua portuguesa. Aos 42 anos, o poeta via expandir em traduções a obra que assinara com o próprio nome ou com 105 outros, seus heterônimos. Duas décadas mais jovem, o professor Pierre Hourcade, responsável por verter pela primeira vez seus versos em português e inglês a uma língua estrangeira, o francês, desejava conhecer o poeta pessoalmente. Em fevereiro de 1930, encontraram-se no Café Martinho da Arcada, em Lisboa.
Pessoa animou-se. Os dois tinham muito em comum. Houcarde via Portugal como uma terra propícia ao suicídio dos poetas, que ali poriam fim à vida não por suas ideias, mas pela ausência delas. E Pessoa escrevera em Tabacaria, sob a alcunha Álvaro de Campos: “Falhei em tudo. Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada”. Os dois trocaram livros, ideias e informações. Concordaram sobre a pequenez do mundo onde viviam. Nascia uma grande amizade.
Hourcade entendeu-o resignado enquanto homem, ousado enquanto poeta. A bem dizer, um gênio poético. “Deixa muito para trás os nossos pálidos e secos teóricos de vanguarda”, escreveu na revista parisiense Contacts ao relatar esse encontro, quatro meses depois. O poeta se disse lisonjeado com os artigos do autor francês em torno de sua obra. “Gostava de ter em Lisboa um Pierre Hourcade com quem conversar”, escreveu a João Gaspar Simões, um amigo que seria seu primeiro biógrafo.
Em uma ocasião, Pessoa confessou que lhe agradaria ver o jovem professor contratado pela Faculdade de Letras de Lisboa. O desejo concretizou-se entre outubro de 1933 e dezembro de 1934, período em que o francês atuou na instituição. Os encontros entre os dois tornaram-se frequentes. Mas, no ano seguinte, o Brasil se interpôs entre eles. Junto a Roger Bastide e Claude Lévi-Strauss, Hourcade integraria a equipe pioneira de docentes da Universidade de São Paulo. Embora se dissesse contente pela “formidável notícia”, Pessoa lamentou o vazio que a ausência do amigo deixaria nele e em todos os que o conheceram.
Acesse aqui o artigo completo da Revista Cult.

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