Ao
afirmar que, na obra de Dostoiévski, o homem não coincide consigo
mesmo, o que Bakhtin quer dizer é: “A” é diferente de “A”,
isto é, não há lógica identitária aí. Em outras palavras, é
aquela ideia de que, na existência natural, a figura da natureza é
a decomposição. O ser humano se decompõe, e a imagem disso é a
morte do indivíduo, do corpo. O corpo morre e, mesmo que ele se
decomponha na barriga de uma bactéria, já não é mais o mesmo
indivíduo. Podemos fazer, então, o caminho no registro existencial,
no qual o indivíduo se decompõe, ou no materialismo, que é a
compreensão do ser através de um processo contínuo de decomposição
dos ser. O que é o materialismo senão a redução do ser a suas
partes mínimas?
Luiz
Felipe Pondé, in Crítica e profecia: a filosofia da religião
em Dostoiévski
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