Acabei
de tomar uma dessas grandes e cruéis decisões da vida de uma pessoa
– não apresentar meu manuscrito de T&C para qualquer
editora até estar terminado, com todas as suas 300.000 palavras.
Isso significa sete meses de trabalho ascético e melancólico –
apesar de a dúvida não ser mais meu demônio, agora, só a
tristeza. Acho que, assim, vou finalizar esse trabalho enorme mais
cedo, se encará-lo e terminá-lo. Os dois últimos anos foram
de trabalho feito em um estado de ânimo preliminar, um estado de
ânimo de iniciar e não completar. Completar qualquer coisa é um
horror, um insulto à vida, mas o trabalho da vida precisa ser
feito, e arte é trabalho – que trabalho!! Li meu original pela
primeira vez e acho que é um verdadeiro Niágara de romance. Isso me
agrada e me motiva, mas é pesaroso saber que esta não é a era para
essa arte. Esta é uma época excludente na arte – o [F.
Scott] Fitzgerald que se afasta e fica de fora predomina sobre o
[Thomas] Wolfe que, na imaginação do público, penetra fundo no
interior das coisas. Mas e daí? Tudo o que eu quero desse livro é
um meio de vida, dinheiro suficiente para viver, comprar uma fazenda
e um pedaço de terra, trabalhar nela, escrever um pouco mais, viajar
um pouco mais, e por aí vai. Mas chega disso. Os próximos
(DEZES)sete meses são tristes de se vislumbrar – mas há tanta
alegria nessas coisas, há mais alegria que em me divertir por aí,
como fiz desde o início de maio, quando terminei uma parte de
100.000 palavras (Registro de Estados de Ânimo). Eu também podia
aprender agora o que é ver as coisas como elas são – e a
verdade é que ninguém se importa com o que alcançarei com esses
escritos. Então eu preciso alcançar do jeito mais assustador e
eficiente que existe, sozinho, espontâneo, novamente cuidadoso,
sempre. O futuro tem uma mulher gloriosa para mim, e meus próprios
filhos, tenho certeza disso – devo chegar a eles e conhecê-los
como um homem com coisas realizadas. Não quero ser um daqueles pais
frustrados. Por trás de mim deve haver algum feito estupendo –
esse é o caminho para se casar, o caminho para se preparar para
feitos e obras maiores. Então…
Jack
Kerouac, in Diários de Jack Kerouac (1947-1954)
Nenhum comentário:
Postar um comentário