terça-feira, 14 de junho de 2016

16 DE JUNHO/47

Acabei de tomar uma dessas grandes e cruéis decisões da vida de uma pessoa – não apresentar meu manuscrito de T&C para qualquer editora até estar terminado, com todas as suas 300.000 palavras. Isso significa sete meses de trabalho ascético e melancólico – apesar de a dúvida não ser mais meu demônio, agora, só a tristeza. Acho que, assim, vou finalizar esse trabalho enorme mais cedo, se encará-lo e terminá-lo. Os dois últimos anos foram de trabalho feito em um estado de ânimo preliminar, um estado de ânimo de iniciar e não completar. Completar qualquer coisa é um horror, um insulto à vida, mas o trabalho da vida precisa ser feito, e arte é trabalho – que trabalho!! Li meu original pela primeira vez e acho que é um verdadeiro Niágara de romance. Isso me agrada e me motiva, mas é pesaroso saber que esta não é a era para essa arte. Esta é uma época excludente na arte – o [F. Scott] Fitzgerald que se afasta e fica de fora predomina sobre o [Thomas] Wolfe que, na imaginação do público, penetra fundo no interior das coisas. Mas e daí? Tudo o que eu quero desse livro é um meio de vida, dinheiro suficiente para viver, comprar uma fazenda e um pedaço de terra, trabalhar nela, escrever um pouco mais, viajar um pouco mais, e por aí vai. Mas chega disso. Os próximos (DEZES)sete meses são tristes de se vislumbrar – mas há tanta alegria nessas coisas, há mais alegria que em me divertir por aí, como fiz desde o início de maio, quando terminei uma parte de 100.000 palavras (Registro de Estados de Ânimo). Eu também podia aprender agora o que é ver as coisas como elas são – e a verdade é que ninguém se importa com o que alcançarei com esses escritos. Então eu preciso alcançar do jeito mais assustador e eficiente que existe, sozinho, espontâneo, novamente cuidadoso, sempre. O futuro tem uma mulher gloriosa para mim, e meus próprios filhos, tenho certeza disso – devo chegar a eles e conhecê-los como um homem com coisas realizadas. Não quero ser um daqueles pais frustrados. Por trás de mim deve haver algum feito estupendo – esse é o caminho para se casar, o caminho para se preparar para feitos e obras maiores. Então…
Jack Kerouac, in Diários de Jack Kerouac (1947-1954)

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