Esquecido
na mesa,
com
o cabo voltado para cima
e
as bordas arrepanhadas,
é
como seu dono vestido,
composto
no seu caixão.
Não
desdobra a dobradiça,
não
pousa no braço grave
do
que, sendo seu patrão,
foi
pra debaixo da terra.
Ele
vai para o porão.
Existe
um retrato antigo
em
que posou aberto,
com
o senhor moço e sem óculos.
Guarda-chuva,
guarda-sol,
guarda-memória
pungente
de
tudo que foi em nós
um
pouco ridículo e inocente.
Guarda-vida,
arquivo preto,
cão
de luto, cão jazente.
Adélia
Prado
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