Digo!
outro mês, outro longe ― na Aroeirinha fizemos paragem. Ao que,
num portal, vi uma mulher moça, vestida de vermelho, se ria. ― 0
moço da barba feita... ― ela falou. Na frente da boca, ela quando
ria tinha os todos dentes, mostrava em fio. Tão bonita, só. Eu
apeei e amarrei o animal num pau da cerca. Pelo dentro, minhas pernas
doíam, por tanto que desses três dias a gente se sustava de custoso
varar! circunstância de trinta léguas. Diadorim não estava perto,
para me reprovar. De repente, passaram, aos galopes e gritos, uns
companheiros, que tocavam um boi preto que iam sangrar e carnear em
beira d água. Eu nem tinha começado a conversar com aquela moça, e
a poeira forte que deu no ar ajuntou nós dois, num grosso rojo
avermelhado. Então eu entrei, tomei um café coado por mão de
mulher, tomei refresco, limonada de pêra-do-campo. Se chamava
Nhorinhá. Recebeu meu carinho no cetim do pêlo ― alegria que foi,
feito casamento, esponsal. Ah, a mangaba boa só se colhe já caída
no chão, de baixo... Nhorinhá. Depois ela me deu de presente uma
presa de jacaré, para traspassar no chapéu, com talento contra
mordida de cobra; e me mostrou para beijar uma estampa de santa, dita
meia milagrosa. Muito foi.
Guimarães
Rosa, in Grande sertão: veredas
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