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Fui
acordado por Sofia, minha filha de sete anos, às seis horas, certa
manhã, com um problema linguístico e filosófico:
— Pai,
este tal de H é muito difícil. Ele não tem som!
Fiz
com que ela repetisse a questão, meio incrédulo e já ínsono:
— Pai,
este tal de H é muito difícil. Ele não tem som!
Depois
de ouvir outra vez a sua categórica afirmação, tentei explicar:
— É
que as palavras não são apenas a reprodução do som – e parei
aí, antes que eu enveredasse por explicações filogenéticas. –
Sabe de uma coisa, Sofia? Esse H é um chato, aparece na festa das
palavras sem ser convidado! E, além disso, é um exibido que caminha
com pernas de pau!
Felizmente,
ela riu e me contou um sonho que tivera, e que agora não lembro.
Algum
tempo depois, na sala, depois do café matinal, perguntou-me o que
era esporte.
Pego
de surpresa, balbuciei em voz alta: — Do latim, não é. Será que
vem do grego?
— Vem
do inglês, pai, sport. Mas eu quero saber o que significa?
— Não
sei, Sofia, o que significa a palavra sport...
Será
que esporte começou num porto? – pensei com meus botões. E o que
será pensar com botões? De onde terá vindo essa expressão “pensar
com meus botões”?
Essas
crianças, alimentadas a TV e computador, estão se tornando
infernalmente inteligentes.
Não
virá daí o arzinho de enfado e arrogância que, às vezes, percebo
no rosto dos meus alunos?
E
pensar que eu, aos sete ou oito anos, ainda achava que olimpíada era
um concurso de piada…
Charles
Kiefer, in Para ser escritor
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