segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Um lobo

Furtivo e cinzento na penumbra última,
vai deixando seus rastros na margem
deste rio sem nome que saciou
a sede de sua garganta e cujas águas
não repetem estrelas. Esta noite,
o lobo é uma sombra que está só
e que busca a fêmea e sente frio.
É o último lobo da Inglaterra.
Odin e Thor o sabem. Em sua alta
casa de pedra um rei decidiu
acabar com os lobos. Forjado
já foi o forte ferro de tua morte.
Lobo saxão, engendrastes em vão.
Não basta ser cruel. És o último.
Mil anos passarão e um homem
velho te sonhará na América. De nada
pode servir-te esse futuro sonho.
Hoje te cercam os homens que seguiram
pela selva os rastros que deixaste,
furtivo e cinzento na penumbra última.
Jorge Luis Borges

Nenhum comentário:

Postar um comentário