Marcello
Quintanilha: melhor HQ policial em Angoulême por "Tungstênio"
Após
anos centrando esforços na milionária indústria de quadrinhos dos
Estados Unidos, os autores brasileiros estão mais reconhecidos e
interessados do que nunca no ainda pouco explorado e tradicional
mercado europeu de HQs. Em março, a coleção “Romance Gráfico
Brasileiro”, da editora portuguesa Polvo, ganha seu 12º volume.
Dentre os títulos da série está o aclamado “Tungstênio”, obra
de Marcello Quintanilha premiada com o troféu de melhor HQ policial
na
mais recente edição do Festival de Angoulême, na França, a mais
tradicional premiação de quadrinhos do mundo.
Idealizador
e responsável pela coleção “Romance Gráfico Brasileiro”,
iniciada em 2013, o editor português Rui Brito diz que a presença
intensa de elementos da cultura brasileira somada a tramas universais
e estilos variados é o que há de melhor na leva mais recente de
quadrinhos produzidos no Brasil. "É um momento caracterizado
por uma notável explosão criativa nos quadrinhos brasileiros. Um
dos elementos comuns ligando quase todos os títulos que publiquei é
a brasilidade. Outro, é a diversidade de estilos", analisa o
editor.
Título
brasileiro mais premiado e elogiado pela crítica especializada nos
últimos anos, “Tungstênio” saiu em Portugal e na França em
2015, logo após o lançamento do livro no Brasil. Quintanilha diz
acreditar que, além da efervescência atual da produção brasileira
de quadrinhos, há uma predisposição dos editores europeus à
pluralidade de suas publicações. “Eles sempre estiveram abertos à
diversidade de propostas apresentadas. Desenhistas de diferentes
nacionalidades sempre estiveram presentes nos grandes mercados. É
provável que a diversidade de nacionalidades se torne ainda maior”.
Um
paulista, uma carioca
Com
previsão de lançamento em março em Portugal, "Klaus"
será o mais novo lançamento da coleção da editora Polvo. De
autoria do quadrinista paulistano Felipe Nunes, o álbum foi
publicado no Brasil em novembro de 2014 e deu ao autor o Troféu
HQMix 2015 de Novo Talento Desenhista. “Não fiz o quadrinho
pensando em ser publicado fora do Brasil. Até por ter sido meu
primeiro livro, tinha anseio de fazer para sair aqui, para que todo
mundo pudesse ver e eu mostrasse a minha cara”, explica Nunes.
No
final de 2015 ele lançou seu segundo título, o também elogiado
“Dodô”, já tendo em mente a possibilidade de ver seu trabalho
chegar na Europa. “Ano passado fiz um esforço de traduzir os dois
livros e imprimi algumas cópias para presentear autores gringos que
visitaram o país em convenções. Também tenho tentado expandir
meus contatos com outros quadrinistas de fora e feito algumas
conversas sobre sair por lá. Acho que tem muita gente com potencial
de ser publicado fora do mercado nacional”.
Atualmente
morando na França, em Angoulême, onde frequenta uma residência
artística na qual está realizando uma HQ autobiográfica sobre seus
anos como estudante de medicina, a quadrinista carioca Cynthia
Bonacossa tem convivido diariamente com artistas de outras
nacionalidades e conversado com frequência com editores franceses.
Segundo ela, a receptividade a trabalhos vindos do Brasil não é
distinta do fascínio por títulos de quaisquer outros países, mas
há fatores que podem gerar interesse.
“Tem
algumas editoras mais francófonas, que só publicam coisas
francesas, e outras mais abertas. Os franceses são bem abertos a
conhecer a arte de outros lugares. Eles têm curiosidade. Histórias
mais roots, como as de subúrbio do Quintanilha, talvez cativem um
pouco mais, por serem mais exóticas para os leitores daqui. Talvez
sejam temáticas que aticem a curiosidade deles, algo parecido com o
interesse de ‘Cidade de Deus’, não tão urbanas e
autobiográficas”, explica a autora. Ainda assim, Cynthia reitera
que conversou com editores locais que mostram interesse em sua HQ,
mesmo ela não contendo características e elementos da ideia
francesa considerados típicos do Brasil.
Interesse
pelos brasileiros
Dono
da editora Veneta, editor original de "Tungstênio" no
Brasil e responsável por outros títulos brasileiros sendo
exportados para a Europa, Rogério de Campos vê um padrão no
sucesso de algumas obras nacionais que recentemente chegaram nos
tradicionais mercados de quadrinhos de França e Portugal. “O
Quintanilha está conquistando as coisas dentro dos termos dele, com
o desenho dele, as histórias dele, as idéias dele. Não está
adaptando isso e aquilo para se adequar ao mercado internacional.
Quando descobriram o ‘Cumbe’, de Marcelo D'Salete, esse interesse
aumentou ainda mais. O sucesso surpreendente de ‘Zumbis Para
Colorir’, de Juscelino Neco - cujos direitos foram adquiridos por
editoras da França, Itália, Portugal, Finlândia, Taiwan e EUA -
também ajudou”.
Na
avaliação de Rogério de Campos, a agitação do mercado nacional
de quadrinhos, a qualidade crescente do que tem sido publicado no
Brasil e o interesse europeu nas obras brasileiras são elementos já
notados há muito tempo pelos autores daqui. A importância maior da
premiação de Quintanilha em Angoulême e a chegada cada vez mais
constante de títulos brasileiros no continente europeu servem
principalmente para chamar atenção do público para o momento
extraordinário dos quadrinhos brasileiros. “Fora do Brasil, o
interesse pelo quadrinho brasileiro de autor já é bem grande. E o
prêmio de Angoulême talvez seja mais importante para o mercado
editorial e a mídia brasileira perceberem a importância que os
quadrinhos brasileiros adquiriram nesses últimos
anos”.
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