quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

O sucesso do HQ brasileiro no mercado europeu

Marcello Quintanilha: melhor HQ policial em Angoulême por "Tungstênio"
Marcello Quintanilha: melhor HQ policial em Angoulême por "Tungstênio"

Após anos centrando esforços na milionária indústria de quadrinhos dos Estados Unidos, os autores brasileiros estão mais reconhecidos e interessados do que nunca no ainda pouco explorado e tradicional mercado europeu de HQs. Em março, a coleção “Romance Gráfico Brasileiro”, da editora portuguesa Polvo, ganha seu 12º volume. Dentre os títulos da série está o aclamado “Tungstênio”, obra de Marcello Quintanilha premiada com o troféu de melhor HQ policial na mais recente edição do Festival de Angoulême, na França, a mais tradicional premiação de quadrinhos do mundo.
Idealizador e responsável pela coleção “Romance Gráfico Brasileiro”, iniciada em 2013, o editor português Rui Brito diz que a presença intensa de elementos da cultura brasileira somada a tramas universais e estilos variados é o que há de melhor na leva mais recente de quadrinhos produzidos no Brasil. "É um momento caracterizado por uma notável explosão criativa nos quadrinhos brasileiros. Um dos elementos comuns ligando quase todos os títulos que publiquei é a brasilidade. Outro, é a diversidade de estilos", analisa o editor.


Título brasileiro mais premiado e elogiado pela crítica especializada nos últimos anos, “Tungstênio” saiu em Portugal e na França em 2015, logo após o lançamento do livro no Brasil. Quintanilha diz acreditar que, além da efervescência atual da produção brasileira de quadrinhos, há uma predisposição dos editores europeus à pluralidade de suas publicações. “Eles sempre estiveram abertos à diversidade de propostas apresentadas. Desenhistas de diferentes nacionalidades sempre estiveram presentes nos grandes mercados. É provável que a diversidade de nacionalidades se torne ainda maior”.

Um paulista, uma carioca
Com previsão de lançamento em março em Portugal, "Klaus" será o mais novo lançamento da coleção da editora Polvo. De autoria do quadrinista paulistano Felipe Nunes, o álbum foi publicado no Brasil em novembro de 2014 e deu ao autor o Troféu HQMix 2015 de Novo Talento Desenhista. “Não fiz o quadrinho pensando em ser publicado fora do Brasil. Até por ter sido meu primeiro livro, tinha anseio de fazer para sair aqui, para que todo mundo pudesse ver e eu mostrasse a minha cara”, explica Nunes.


No final de 2015 ele lançou seu segundo título, o também elogiado “Dodô”, já tendo em mente a possibilidade de ver seu trabalho chegar na Europa. “Ano passado fiz um esforço de traduzir os dois livros e imprimi algumas cópias para presentear autores gringos que visitaram o país em convenções. Também tenho tentado expandir meus contatos com outros quadrinistas de fora e feito algumas conversas sobre sair por lá. Acho que tem muita gente com potencial de ser publicado fora do mercado nacional”.
Atualmente morando na França, em Angoulême, onde frequenta uma residência artística na qual está realizando uma HQ autobiográfica sobre seus anos como estudante de medicina, a quadrinista carioca Cynthia Bonacossa tem convivido diariamente com artistas de outras nacionalidades e conversado com frequência com editores franceses. Segundo ela, a receptividade a trabalhos vindos do Brasil não é distinta do fascínio por títulos de quaisquer outros países, mas há fatores que podem gerar interesse.
Tem algumas editoras mais francófonas, que só publicam coisas francesas, e outras mais abertas. Os franceses são bem abertos a conhecer a arte de outros lugares. Eles têm curiosidade. Histórias mais roots, como as de subúrbio do Quintanilha, talvez cativem um pouco mais, por serem mais exóticas para os leitores daqui. Talvez sejam temáticas que aticem a curiosidade deles, algo parecido com o interesse de ‘Cidade de Deus’, não tão urbanas e autobiográficas”, explica a autora. Ainda assim, Cynthia reitera que conversou com editores locais que mostram interesse em sua HQ, mesmo ela não contendo características e elementos da ideia francesa considerados típicos do Brasil.
Interesse pelos brasileiros
Dono da editora Veneta, editor original de "Tungstênio" no Brasil e responsável por outros títulos brasileiros sendo exportados para a Europa, Rogério de Campos vê um padrão no sucesso de algumas obras nacionais que recentemente chegaram nos tradicionais mercados de quadrinhos de França e Portugal. “O Quintanilha está conquistando as coisas dentro dos termos dele, com o desenho dele, as histórias dele, as idéias dele. Não está adaptando isso e aquilo para se adequar ao mercado internacional. Quando descobriram o ‘Cumbe’, de Marcelo D'Salete, esse interesse aumentou ainda mais. O sucesso surpreendente de ‘Zumbis Para Colorir’, de Juscelino Neco - cujos direitos foram adquiridos por editoras da França, Itália, Portugal, Finlândia, Taiwan e EUA - também ajudou”.
Na avaliação de Rogério de Campos, a agitação do mercado nacional de quadrinhos, a qualidade crescente do que tem sido publicado no Brasil e o interesse europeu nas obras brasileiras são elementos já notados há muito tempo pelos autores daqui. A importância maior da premiação de Quintanilha em Angoulême e a chegada cada vez mais constante de títulos brasileiros no continente europeu servem principalmente para chamar atenção do público para o momento extraordinário dos quadrinhos brasileiros. “Fora do Brasil, o interesse pelo quadrinho brasileiro de autor já é bem grande. E o prêmio de Angoulême talvez seja mais importante para o mercado editorial e a mídia brasileira perceberem a importância que os quadrinhos brasileiros adquiriram nesses últimos anos”.

Acesse aqui a matéria completa da entretenimento.uol.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário