sábado, 13 de fevereiro de 2016

Nina

Várias semanas se passaram. Não vi mais Nina. Fiquei com a executiva que morava em Marina Del Rey. Ficava lá a maior parte do tempo. Ela era uma alma boa – decente, mas um pouco perturbada, como qualquer pessoa em nossa sociedade – e criativa o suficiente, raramente aborrecida, e acima de tudo furiosa com os homens e com o que os homens tinham feito a ela – aquela velha história. Mas tinha um bom apartamento e um corpo ótimo; seus olhos eram a melhor parte – abatidos, mas ainda esperançosos – grandes e castanhos, brilhando o brilho bom das flores, um brilho bom como qualquer coisa boa. Mas o tempo acaba por entrar na equação, assim como as jornadas de trabalho de oito horas e os bazares de domingo e os amigos (dela). Eu não tinha amigos. Mas que se foda tudo isso – o que estou tentando dizer é que várias semanas se passaram até que Nina telefonasse. Nina tinha um jeito peculiar de falar ao telefone – a voz monótona e reticente. Fazia você enxergar o cabelo, o corpo de novo, a mente de novo, tudo o que a compunha e me fazia sentir coisas que nenhuma outra mulher era capaz de me fazer sentir.
Hank – ela disse –, o que você está fazendo?
Nada. Absolutamente nada.
Preciso de um favor.
Ok.
Quero uma carona até a casa da Karyn.
Tudo bem.
Ela tem umas boletas. Não são muito boas, mas dão para o gasto, e não tem mais nenhuma farmácia a que eu possa ir.
Passo aí daqui a pouco.
Preciso de quinze minutos.
Tudo bem.
Só uma coisa – ela disse.
O quê? – perguntei.
Pegamos o negócio e damos o fora. Não quero nada daquilo que aconteceu da outra vez. Foi terrível.
Tudo bem.
Desliguei.
Charles Bukowski, in Pedaços de um caderno manchado de vinho

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