terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Coisinhas de Mário Quintana

A morte deveria ser assim: um céu que pouco a pouco anoitecesse e a gente nem soubesse que era o fim...”
Seu Glicínio, porteiro, acredita que rato, depois de velho, vira morcego. É uma crença que ele traz da sua infância. Não o desiludas com teu vão saber, respeita-lhe os queridos enganos. Nunca se deve tirar o brinquedo de uma criança, tenha ela oito ou oitenta anos!
Sempre fui metafísico. Só penso na morte, em Deus e em como passar uma velhice confortável.
Há ruídos que não se ouvem mais; o grito desgarrado de uma locomotiva na madrugada; os apitos dos guardas-noturnos; os barbeiros que faziam cantar o ar com suas tesouras; a matraca do vendedor de cartuchos; a gaitinha do afiador de facas. Todos esses ruídos que apenas rompiam o silêncio. E hoje o que mais se precisa é de silêncios que interrompam o ruído…
Rubem Alves, in Do universo à jabuticaba

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