segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

A súbita turbulência do amor


As árvores eram altas e triangulares. Permaneceram caladas.
Liesel tirou da bolsa A Sacudidora de Palavras e mostrou uma página a Rudy. Nela havia um menino com três medalhas penduradas no pescoço.
— “Cabelos da cor de limões” — leu Rudy. Seus dedos tocaram as palavras. — Você falou de mim com ele?
No começo, Liesel não conseguiu dizer nada. Talvez fosse a súbita turbulência do amor que sentiu por ele. Ou será que sempre o tinha amado? Era provável. Impedida como estava de falar, desejou que ele a beijasse. Quis que ele arrastasse sua mão e a puxasse para si. Não importava onde a beijasse. Na boca, no pescoço, na face. Sua pele estava vazia para o beijo, esperando.
Anos antes, quando os dois haviam apostado corrida num campo lamacento, Rudy era um conjunto de ossos montado às pressas, com um riso irregular e hesitante. Sob o arvoredo, nessa tarde, era um doador de pão e Ursinhos de pelúcia. Um tríplice campeão de atletismo da Juventude Hitlerista. Era seu melhor amigo. E estava a um mês de sua morte.
É claro que falei de você com ele — disse Liesel.
Estava se despedindo, e nem sabia.”
Markus Zusak, in A menina que roubava livros

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