sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Redes sociais e a ilusão dos milhares de amigos



O que alguns já desconfiavam agora foi referendado por um estudo. As redes sociais não nos permitem ter mais amigos, revela trabalho publicado na revista da Royal Society Open Science. O amigo aí, claro, é o “aliado, concorde. Caro, complacente, dileto, favorável. Dedicado, afeiçoado”, como está no dicionário, porque “seguidor” se chega fácil aos milhares.
Por outro lado, as redes possibilitaram conhecer melhor algumas pessoas que nos pareciam simpáticas, pluralistas e democráticas e se apresentam online exatamente o contrário de tudo isso. Você custa a acreditar na mudança e fica sem saber muito bem o que fazer diante da nova situação.

Segundo o estudo, o número máximo de pessoas com as quais nós podemos ter relações sinceras e fortes gira em torno de 150. Eu acho esse número exagerado. Talvez 15 esteja mais próximo da realidade. E dentre esses uns dois, três com os quais você pode contar para o que der e vier.

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Há poucos dias eu tomava café com duas queridas amigas e falamos, entre tantas outras coisas, sobre a relação entre redes sociais, solidão e relacionamento afetivo. E eu lembrei e inclui na conversa, de raspão porque a conversa fluía leve e solta, referência à “sociedade líquida” do sociólogo polonês Zygmunt Bauman.
Tenho dúvidas sobre se as redes são vilãs de tantas e variadas coisas como muita gente aponta. Inclusive Bauman. Uma das amigas levantou uma questão pertinente. A de que é preciso prudência com explicações e teorias sobre acontecimentos em curso. A Internet ainda é muita recente para conclusões cabais.
Solitários, intolerantes misantropos, neuróticos, agressivos e separações, encontros e desencontros sempre existiram. O que ocorreu é que as redes deram mais visibilidade a essas questões, que sempre rendem muitas “curtidas” e “compartilhamentos” e acabaram migrando para a vida real. Eu poderia citar como exemplo, ocorrido há pouco, a exibição de três peças teatrais na cidade (comentei-as aqui mesmo) que tratam de… relacionamentos amorosos.
Outro aspecto que alguns teóricos já estão levantando é se a essa altura ainda cabe separar os mundos real e virtual. Se já não são uma única coisa.
O mundo mudou muito e rapidamente e levou tudo de roldão. E o que estamos vivendo hoje não pode ser explicado sem levar em conta essas mudanças profundas. Nesse contexto eu destacaria pelos menos duas mudanças que alteraram significativamente a sociedade: o feminismo e as independências emocional e financeira das pessoas.
Homens e mulheres, até bem pouco tempo, em nome de valores e também devido à dependência financeira, suportavam durante anos e até para sempre relacionamentos completamente inviáveis e dolorosos, com consequências desastrosas no entorno. Essa era que você viveu acabou, viu mamãe! E não deixou saudade. Se essa mudança é parte da tal “sociedade líquida” então que seja bem vinda.
Nesse novo tempo que está sendo engendrado, as pessoas brutas, insensíveis, agressivas, neuróticas, homofóbicas, machistas etc terão de reinventar-se – terapia ajuda – ou ficarão falando sozinhas, no seu mundinho real/virtual.
Tácito Costa, in www.substantivoplural.com.br

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