Tinha
sido a última oportunidade. Agora, sabia. De qualquer maneira,
pensou, poderia ter me poupado da humilhação do telefonema e do
último diálogo, diálogo de mudos, na mesa do café. Sentia na boca
um gosto de moeda velha e no corpo uma sensação de coisa quebrada.
Não só na altura do peito, não: em todo o corpo: como se as
vísceras se adiantassem à morte, antes da consciência decidir. Sem
dúvida, tinha ainda muito que agradecer a muita gente, mas ele se
lixava para isso. A garoa molhava-o com suavidade, molhava seus
lábios, e ele teria preferido que a garoa não o tocasse daquele
jeito tão conhecido. Ia descendo para a praia e depois afundou
lentamente no mar sem nem ao menos tirar as mãos dos bolsos, e todo
o tempo lamentava que a garoa se parecesse tanto à mulher que ele
havia amado e inventado, e também lamentava entrar na morte com o
rosto dela ocupando a totalidade da memória de sua passagem pela
terra: o rosto dela com o pequeno talho no queixo e aquele desejo de
invasão nos olhos.
Eduardo
Galeano, in Vagamundo
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