“Quem
não gosta de esperar não pode ser fotógrafo. Em 2004 cheguei à
ilha Isabela, em Galápagos, aos pés de um belíssimo vulcão
chamado Alcedo. Deparei-me com uma tartaruga gigante, enorme, de no
mínimo duzentos quilos, da espécie que deu nome ao arquipélago.
Cada vez que me aproximava, a tartaruga se afastava. Ela não era
rápida, mas eu não conseguia fotografá-la. Então refleti e pensei
comigo mesmo: quando fotografo seres humanos, nunca chego de surpresa
ou incógnito a um grupo, sempre me apresento. Depois me dirijo às
pessoas, explico, converso e, aos poucos, nos conhecemos. Percebi
que, da mesma forma, o único meio de conseguir fotografar aquela
tartaruga seria conhecendo-a; eu precisava me adaptar a ela. Então
me fiz tartaruga: fiquei agachado e comecei a caminhar na mesma
altura que ela, com palmas e joelhos no chão. A tartaruga parou de
fugir. E quando se deteve, fiz um movimento para trás. Ela avançou
na minha direção, eu recuei. Esperei um momento e depois me
aproximei, um pouco, devagar. A tartaruga deu mais um passo na minha
direção e, imediatamente, dei mais alguns para trás. Então ela
veio até mim e se deixou observar tranquilamente. Foi quando pude
começar a fotografá-la. Levei um dia inteiro para me aproximar
dessa tartaruga. Um dia inteiro para fazê-la compreender que eu
respeitava seu território.”
Sebastião
Salgado,
in Da
minha terra à Terra
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