sábado, 5 de setembro de 2015

Tristeza e prazer tão pertos um do outro

E sempre que um homem tivesse um pouco de dinheiro podia embriagar-se. Aí acabavam-se os ângulos duros, e tudo era quente, confortador. Aí não mais havia solidão, pois que o cérebro povoava-se de amigos e o homem podia achar seus inimigos e aniquilá-los. O homem estava sentado num buraco e a terra tornava-se macia debaixo dele. A desgraça doía menos e o futuro não mais aterrorizava. E a fome não rondava mais perto, o mundo era suave e sem complicações e o homem podia chegar aonde quisesse. As estrelas desciam para maravilhosamente perto e o céu era tão encantador! A morte era um amigo e o sono era irmão da morte. Voltavam os tempos antigos... uma moça de pernas bonitas, com quem outrora se dançava em casa... um cavalo... oh, faz tanto tempo que isso aconteceu! Um cavalo e uma sela. Uma sela de couro trabalhado. Quando foi mesmo que isso aconteceu? Eu devia era encontrar uma moça com quem conversar. E seria tão bom! Até, quem sabe?, eu podia até dormir com ela. Mas que calor faz aqui! As estrelas tão pertinho da gente, e a tristeza e o prazer tão pertos um do outro, a mesma coisa, no fundo. Só queria era estar o tempo todo bêbado. Quem foi que disse que isso não prestava? Quem ousa dizer isso? Os pregadores, mas eles têm a sua maneira própria de se embebedar. Mulheres magras, estéreis, mas estas são por demais miseráveis para compreenderem uma coisa assim. Os reformadores, mas estes não conhecem a vida bastante de perto para poder julgá-la. Não senhor... As estrelas estão muito próximas, tão próximas, e eu pertenço à confraria do mundo. E tudo é sagrado... tudo, até eu mesmo.”
John Steinbeck, in As vinhas da ira

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