“Vós
outros andais muito solícitos em redor do próximo, e a vossa
solicitude exprime-se em belas palavras. Mas eu vos digo: o vosso
amor ao próximo é apenas o vosso mau amor por vós próprios.
É
para fugirdes de vós que andais em volta do próximo, e quereríeis
converter isso numa virtude; mas pus a claro o vosso desinteresse.
(...)
Não suportais a vossa própria companhia, e não vos amais o
suficiente; procurais então seduzir o próximo com o vosso amor e
doirar-vos com o seu erro.
Eu
quisera que todos os próximos e aqueles que se seguem se vos
tornassem intoleráveis: assim teríeis de extrair de vós mesmos o
amigo de coração transbordante.
Convocais
uma testemunha quando quereis dizer bem de vós; e logo que a haveis
induzido a pensar bem da vossa pessoa, vós mesmos pensais bem da
vossa pessoa.
É
mentiroso não só o que fala contra a sua consciência, mas também
o que fala contra a sua inconsciência. Ora é assim que falais de
vós no trânsito diário, e que enganais o próximo e a vós mesmos.
Assim
fala o louco: O
convívio dos homens estraga o caráter, sobretudo quando não tem
caráter.
Um
procura o próximo porque se procura, o outro porque anseia
perder-se. O vosso mau amor por vós próprios converte a vossa
solidão num cativeiro.”
Friedrich
Nietzsche,
in
Assim Falava Zaratustra
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