“Se
não cessas de correr, marulhando no ar tépido com as tuas mãos
como natatórios, olhando furtivamente tudo diante de que passas no
meio-sono apressado, acontecer-te-á também um dia deixar passar
diante de ti o carro. Se te mantiveres firme, pelo contrário, com o
poder do teu olhar fazendo crescer as raízes em profundidade e em
comprimento - nada então te poderá eliminar - em virtude não das
raízes mas da força do teu olhar que escruta - será então que
verás o longínquo imutavelmente obscuro de onde nada pode surgir a
não ser precisamente uma vez este carro que rola para ti, que se
aproxima, cada vez maior e que, no próprio instante em que entras em
tua casa, enche o mundo enquanto mergulhas nele como uma criança no
banco acolchoado de uma diligência que corre através da tempestade
e da noite.”
Franz
Kafka,
in Meditações
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